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  • Giovanna de Oliveira e Vinicius Byczkowski

Desigualdade educacional e pandemia

Atualizado: 30 de nov. de 2020


Estudantes e professores do ensino fundamental comentam sobre as dificuldades de aprendizagem durante as aulas online ocasionadas pela COVID-19


Por Giovanna de Oliveira e Vinicius Byczkowski



No dia 4 de novembro, o Conselho Estadual de Educação sancionou a proposta de aprovação automática nas escolas estaduais de São Paulo em 2020. A medida gerou a reflexão sobre a efetividade do ensino à distância durante a pandemia do coronavírus e questionamentos sobre o futuro da educação.


A desigualdade educacional entre as redes pública e privada ficou ainda mais evidente com os desafios da COVID-19. As dificuldades se manifestam através do acesso precário à tecnologia, ausência de suporte psicológico aos alunos e professores e planos de aula que não estimavam o ensino à distância por um longo período.


A prefeitura de São Paulo criou um programa de ensino remoto de emergência, com a série de cadernos “Trilhas de Aprendizagem”. A coordenadora da EMEF Hermes Ferreira de Souza, Ediene Machado, explica: “Não temos um EAD (Ensino à Distância). O sistema EAD tem mais aulas online, com horário fixo. Nós estamos condicionados à prefeitura, cumprimos o que ela exige”.


Miguel, estudante do 9º ano da EE Domingos Mignoni, localizada na cidade de Taboão da Serra, conta que o ensino estadual também está disponibilizando materiais de aprendizagem remota, mas que ele não consegue aprender da mesma forma que no ensino presencial. São oferecidas apostilas de exercício que devem ser retiradas na escola periodicamente. As aulas online ao vivo só ocorrem nas matérias de Português e Matemática, enquanto o restante é dado apenas através de explicações escritas ou videoaulas gravadas seguidas de exercícios.


O Ministério da Educação (MEC) tem apresentado aulas na TV Escola desde o início da pandemia. Porém, Miguel explica que a escola onde estuda recomendou que os alunos não assistissem a essas aulas devido às diferenças da matéria oferecida, uma vez que podem ser muito avançadas ou com conteúdos repetidos.


Na rede municipal, a situação não é muito diferente. As atividades devem ser feitas na plataforma Google Classroom, onde 90% do plano de ensino é realizado. As aulas online ao vivo não têm um planejamento específico, mas os professores se disponibilizam para dúvidas todos os dias, de acordo com a professora Alessandra Menezes. Maria Eduarda, aluna do 9º ano, afirma não se sentir à vontade para fazer perguntas para os professores à distância, sentimento comum entre os colegas da sala.


Já na rede privada, Nathan estuda no Colégio Adventista Unasp, localizado na cidade de São Paulo, e conta que está tendo aula todos os dias. As matérias são dadas com aulas ao vivo no horário de costume e, paralelamente, são disponibilizadas aulas de reforço para que os estudantes não tenham defasagem. Além disso, a escola está oferecendo aulas extracurriculares presencialmente desde outubro. Nelas, os estudantes fazem atividades de descontração na escola uma vez por semana e a participação é opcional.


Um fator apontado repetidamente pelos alunos e professores é a desmotivação. A incerteza sobre o futuro das aulas fez com que diversos estudantes desistissem de estudar. Muitos afirmam se sentir sozinhos, não ter equipamento ou ambiente adequado e vontade de levantar da cama. Leila Faula, professora da rede municipal, diz que menos da metade dos alunos fazem as atividades. O estudante Nathan, da rede privada, mostra que em colégios particulares a situação é parecida: “Minha turma online tem 60 alunos. No começo todo mundo gostava de fazer as atividades porque era algo novo, mas agora só uns 25 participam”.


A pressão psicológica entre professores também se mostra presente.

“Muitos professores trabalham fora do horário. Alguns professores têm tido problemas psicológicos por conta da alta demanda”, afirma a coordenadora Ediene.

As aulas online têm sido um desafio similar para os pais. Além da conciliação da rotina em casa com o trabalho, há a preocupação com o ensino dos filhos. Thais da Gama é mãe de dois alunos da rede estadual e diz que este foi um ano perdido em relação aos estudos: “Eles [filhos] sabem que ninguém vai repetir de ano e a escola não tem feito muito. A maioria dos professores apenas publica a matéria, manda e-mail avisando e não existe uma cobrança”.


Outro drama vivido pelos alunos do 9º ano gira em torno do futuro. Muitas escolas públicas oferecem turmas até o final do ensino fundamental e os jovens participam do processo seletivo das escolas técnicas (ETEC) para ingressar no ensino médio. A seleção das ETECs, tradicionalmente, é feita a partir de um vestibular, mas ainda não há certeza do funcionamento nesse ano. Muitos alunos da rede pública não têm tido provas para praticar para a avaliação das escolas técnicas, nem têm sido avaliados com notas. Nesse sentido, grande parte não sabe onde irá estudar no ano que vem e afirma ter medo da nova rotina.


Mesmo com diversos desafios, a avaliação da nova dinâmica de ensino durante a pandemia não é totalmente negativa. O professor Fernando Cândia acredita que, à distância, os alunos têm recorrido à internet como uma nova ferramenta de aprendizado: “Antes a tecnologia servia para entretenimento e comunicação, mas hoje também serve para trabalho”. Alguns alunos acreditam que se tornaram mais independentes com a ausência do professor em sala de aula e avaliam uma melhora nas matérias em que tinham dificuldades.


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